Saturday, November 15, 2008

A vida a correr ...

Escrever num blog é uma forma de relembrar os antigos diários, só que com um aspecto menos "secreto", mais partilhado e como não sabemos quem nos lê algo "estranho".
Tive uma semana "a correr", sem parar. Claro que o meu habitual é trabalhar entre as 08h e as 20h (com mais ou menos 1 hora) mas esta semana ainda dei por mim a trabalhar no computador até madrugada. De modo que PARAR e MEDITAR volta a ter um significado de quase sobrevivência.
Assim vou partilhar aqui alguns excertos de um livro de que gosto especialmente: Aonde quer que eu vá, de Jon Kabat-Zinn:

A meditação da montanha

No que diz respeito á meditação as montanhas têm muito a ensinar, pois possuem significado arquetípico em todas as culturas. As montanhas são lugares sagrados. As pessoas sempre procuraram orientação espiritual e renovação junto delas e no meio delas. (...) As montanhas são consideradas sagradas, personificando temor e harmonia, dureza e majestade. (...). Para os povos tradicionais as montanhas eram e ainda são mãe, pai, guardião, protector, aliado.
Na prática da meditação, pode ajudar, por vezes, "pedir emprestadas" estas qualidades maravilhosamente arquetípicas das montanhas (...)
Visualize a montanha mais bonita que conheça ou de que tenha ouvido falar ou consiga imaginar (...) repare na sua forma total, no pico sublime, na base enraizada na crusta terrestre, nas encostas íngremes ou suavemente ondulantes. Repare também como é maciça, imutável, como é bela, (...)
Talvez a sua montanha tenha neve no pico e árvores nas encostas mais baixas. Talvez tenha um pico proeminente, talvez uma série de picos ou um planalto. Apareça como aparecer sente-se e respire com a imagem dessa montanha, observando-a, reparando nas suas qualidades. Qundo se sentir preparado, veja se consegue trazer a montanha para o seu próprio corpo de forma a que estar aqui sentado e a montanha da visão interior se tornem um só. A sua cabeça transforma-se nopico sublime; os seus ombros e braços nos lados da montanha; as nádegas e as pernas na base sólida enraizada no tampo da cadeira. Sinta no seu corpo a sensação de elevação, a qualidade axial, profundamente erguida da montanha na sua própria espinha. Convide-se a si mesmo a tornar-se uma montanha respiratória,inabalável na sua quietude, completamente onde está-para lá das palavras e do pensamento, uma presença centrada, enraízada, inamovível.
Ora (...) ao longo do dia, á medida que o sol atravessa o céu, a montanha limita-se a estar assente. A luz, a sombra e as cores estão a mudar virtualmente momento a momento na quietude adamantina da montanha. (...) À medida que a luz muda, que a noite se segue ao dia e o dia á noite, a montanha está simplesmente assente, simplesmente a ser ela própria. Permanece quieta à medida que as estações se vão seguindo e o tempo muda momento a momento e dia-a-dia. Aguentando com calma todas as mudanças.
No Verão, não há neve na montanha, excepto talvez mesmo no cume ou em vertentes protegidas da luz do sol. No Outono a montanha pode ostentar uma camada de brilhantes cores de foga; no Inverno, um manto de neve e gelo. Em qualquer estação,poderá por vezes encontrar-se escondida em nuvens ou nevoeiro,ou fustigada por chuva gelada. (...) Às vezes açoitada por tempestades violentas, açoitada por neve, chuva e ventos de magnitude impensável; durante tudo isso, a montanha permanece. Vem a Primavera, as aves cantam nas árvores mais uma vez, as folhas voltam ás árvores que as tinham perdido, as flores rebentam nos pastos altos ou nas encostas, as correntes transbordam de água de neve derretida. Durante tudo isto, a montanha continua assente,imperturbada pelo tempo, pelo que acontece na superfície,pelas aparências do mundo.
Enquanto estamos sentados mantendo esta imagem na mente, podemos encarnar a mesma quietude imutável e enraizamento perante tudo o que muda nas nossas vidas durante segundos, horas e anos. (...)