Sunday, September 27, 2009

Viver protegendo-se de Cancro

INTRODUÇÃO:

A prevalência ao longo da vida de cancro é 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 2 homens. Assim é extremamente frequente embora apareça sobretudo nas idades mais avançadas: 76% dos cancros diagnosticam-se em pessoas com ou mais de 55 anos (1).

Apesar de existir uma predisposição genética de risco de cancro sabe-se actualmente que factores relacionados com o estilo de vida influenciam de forma relevante o seu aparecimento. Assim:
· 1/3 de todos os cancros associam-se à exposição ao tabaco
· 1/3 de todos os cancros podem ser relacionados com erros de nutrição e falta de actividade física incluindo excesso de peso e obesidade.
Este conhecimento deixa uma porta aberta para a prevenção através de escolhas de hábitos de vida saudáveis que nos previnem destas doenças bem como das doenças cardiovasculares e diabetes.

O tratamento das neoplasias envolve cirurgia, radiação, quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia. Cada doente é diferente pelo que a decisão e escolha de tratamentos é quase sempre diversa e compete ao seu médico (habitualmente existe um grupo de médicos que se debruçam sobre o seu problema).
Sempre que for submetido a algum tratamento pense que é mais 1 passo na sua melhoria destruindo as células anormais e melhorando o seu sistema de defesa.

O nosso organismo produz células defeituosas e os nossos mecanismos de defesa (sistema imunitário) destrói-as. Na maior parte das vezes este sistema funciona, mas por vezes desequilibra-se e desenvolvem-se tumores. Tenha esperança pois a maior parte das vezes a doença é controlada e muitas vezes curada com os tratamentos. Não existe qualquer método alternativo para curar o cancro mas os seus hábitos de vida podem ajudar a preveni-lo e tratá-lo. Não se substituem contudo aos tratamentos convencionais que a Medicina lhe proporciona e que se têm vindo a desenvolver sendo cada vez mais eficazes.Tabagismo:

90% dos cancros do pulmão estão associados ao tabaco(1). Cerca de 10% de cancro do pulmão está associado a exposição a radiações e tóxicos.

O Tabaco é responsável por:
30% das mortes por cancro; 90% das mortes por cancro no pulmão; 97% do cancro da laringe; (25% das mortes por doença do coração); (85% das mortes por bronquite e enfisema); (25% das mortes por derrame cerebral) 50% dos casos de cancro de pele.
O tabaco está associado a um aumento de risco de uma diversidade de cancros. Dos quase 5 000 componentes do tabaco, mais de 50 demonstraram ser carcinogénicos. Estima-se que 30% de todos os cancros, em países desenvolvidos, estão relacionados com o tabaco:
· Cancro do pulmão.
· Cancro da cavidade oral (lábios, boca, língua), laringe e faringe.
· Cancro do esófago.
· Cancro do pâncreas.
· Cancro da bexiga e rins.
· Cancro do colo do útero.

Não fume ou deixe de fumar.
A cessação tabágica é a melhor estratégia para a prevenção desta e doutras doenças (nomeadamente também as doenças cardiovasculares).

VALE SEMPRE A PENA DEIXAR DE FUMAR.

Actividade Física:

Existe de forma conclusiva uma relação inversa entre o nível de actividade física e a incidência de cancro do cólon e da mama (2). A protecção contra estes dois tipos de cancro com a actividade física é muito evidente nos estudos clínicos e populacionais.
Existe ainda uma relação possível e provável (os estudos não são ainda completamente definitivos) sobre a protecção de cancro do pulmão, do endométrio e da próstata com a actividade física (3).

Um estudo recente demonstra que a actividade física acarreta uma redução de risco de cancro do pulmão, especialmente nas pessoas fumadoras ou ex-fumadoras (4). Neste estudo caminhar pelo menos 20 minutos pelo menos 5 dias na semana de forma moderada (de forma a aumentar a sua pulsação, um pouco a sua respiração e levando a alguma sudação) mostrou acarretar protecção contra o cancro do pulmão (4).

A actividade física é toda a actividade que envolve contracção muscular. Assim são exemplos: marcha ou caminhada, andar de bicicleta, subir escadas, dançar, nadar, …


Se já lhe foi diagnosticado alguma neoplasia ou cancro deverá manter um bom nível de actividade física. A actividade física após cancro da mama e do cólon mostrou nos estudos efectuados proteger e melhorar o prognóstico com diminuição da mortalidade e das recorrências da doença.

É recomendação da Sociedade Americana de Cancro que todos os indivíduos sobreviventes de cancro devam efectuar 30 a 60 minutos de actividade física moderada ou intensa pelo menos 5 dias na semana (5).


Contudo os tratamentos a que foi submetido podem acarretar-lhe algumas dificuldades. Assim recomendam-se algumas precauções:

· Se está a efectuar quimioterapia é prudente que não se exercite no dia do tratamento (24h). Alguns tratamentos afectam os pulmões e o coração pelo que deve informar-se junto do médico sobre a segurança do exercício. Pode procurar um programa de reabilitação específico (embora não estejam em Portugal muito divulgados). É necessário também saber da reacção do seu sangue aos tratamentos já que anemia grave ou plaquetas e leucócitos muito baixos podem contra-indicar o exercício. Se estiver febril ou tiver dores ósseas não se exercite.
Contudo não desista e informe-se pois a actividade física melhora as náuseas, fadiga e ansiedade permitindo-lhe uma melhor qualidade de vida.
Deve ser prudente: o exercício deve ser leve a moderado (por exemplo um passeio). Beba bastante água para evitar desidratação.

· Se tem linfedema (por exemplo bastante frequente no braço após algumas cirurgias por cancro da mama) deve usar a manga ou meia de compressão elástica durante o exercício.

· Não se aconselha natação se tem um cateter para tratamento ou tubo de alimentação ou se está a efectuar radioterapia.

· Se tem metástases nos ossos não faça jogging, desportos com saltos ou de contacto.

A actividade física tem o potencial de influenciar o risco de cancro através de vários mecanismos incluindo: melhoria de circulação e ventilação, balanço energético e controlo do peso, melhoria imunológica, redução do dano oxidativo e neutralização de radicais livres, e possivelmente melhoria da reparação de ADN (2).

Se vai iniciar actividade física:
Comece lenta e moderadamente: exemplo inicie por apenas 10 minutos de marcha e aumente por exemplo 5 minutos cada 3 dias. Exercite-se contudo regularmente, se possível diariamente. Se não gosta de caminhar inicie outros exercícios suaves como por exemplo Tai-Chi que também induz relaxamento e permite-lhe entrar para um grupo que poderá servir-lhe de suporte e encorajamento.
Alimentação:

Uma alimentação saudável escolhendo os alimentos da roda dos alimentos protege-nos não só das doenças cardiovasculares mas também dos cancros.

O consumo de sal, álcool, e carnes vermelhas nomeadamente em alimentos processados (bacon, salsichas, …) e fumados e carnes vermelhas grelhadas queimadas (produzem-se substâncias carcinogéneas) mostrou estar associado a um risco aumentado de alguns cancros, nomeadamente colorectal e estômago (5).
Uma alimentação rica em vegetais e frutos é protectiva (reduz o risco) de cancro em global e nomeadamente do cancro colorectal, estômago, esófago e pulmão. Apesar da relação muito estreita e significativa entre o tabaco e o cancro do pulmão sabe-se que o cancro do pulmão tb é protegido por uma alimentação rica em frutos e vegetais e, pelo contrário, uma alimentação rica em carnes vermelhas e álcool é possivelmente de risco (4).
Contudo os suplementos vitamínicos não são benéficos e existem alguns estudos que demonstram serem prejudiciais (5).
Coma as couves, os alhos, outros vegetais, frutos com relevância para os frutos pequenos de bagas (amoras, morangos, framboesas, mirtilos) e citrinos, e esqueça a procura de suplementos e curas milagrosas nas ervanárias.
As ervas aromáticas também são alimentos saudáveis e potencialmente protectivos.

Beba água em abundância

O excesso de peso e obesidade também predispõe às neoplasias (14 a 20% da mortalidade relacionada com o cancro relaciona-se com excesso de peso: nomeadamente nos cancros da mama, cólon, esófago, endométrio e rim) pelo que deve controlar o seu peso (1).
Bibliografia:

1. American Cancer Society. Cancer facts and figures 2006. 2006
2. ACSM’s Guidelines for exercise testing and Prescriptions, 8th edition. 2009.
3. Thune, Furberg. Physical activity and cancer risk: dose-response and cancer, all sites and site-specific. Med Sci Sports Exerc. 2001; 33:S530-550.
4. Michael F. Leitzmann; Corinna Koebnick; Christian C. Abnet; Neal D. Freedman; Yikyung Park; Albert Hollenbeck; Rachel Ballard-Barbash; Arthur Schatzkin. Prospective Study of Physical Activity and Lung Cancer by Histologic Type in Current, Former, and Never Smokers. Am J Epidemiology. 2009
5. Doyle, Kushi, Byers. 2006. Nutrition, Physical activity and Cancer survivorship advisory committee. Nutrition and Physical Activity during and after cancer treatment: an American Cancer Society guide for informed choices. CA Cancer J Clin 2006; 56: 323-53.